Unicamp cria colírio que evita perda de visão por diabéticos
Pesquisadores da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) e da Faculdade de Engenharia Química (FEQ) da Unicamp desenvolveram um colírio capaz de prevenir e tratar a Retinopatia Diabética (RD), complicação que pode comprometer a visão de pessoas com diabetes. Este quadro é consequência de alterações neurais e vasculares na retina geradas pelo efeito tóxico de altas taxas de glicemia (glicose no soro) e que constitui uma das maiores causas de redução visual na idade produtiva podendo inclusive, levar à perda irreversível da visão, em estágios mais avançados.
A professora Jacqueline Mendonça Lopes de Faria, da FCM, avalia que o principal diferencial da tecnologia é o fato de que a formulação farmacêutica contida no colírio permeia as barreiras oculares carreando o princípio ativo até a retina. Por ser em apresentação tópica, não oferece riscos aos pacientes.
“Atualmente, as opções terapêuticas disponíveis para o tratamento da Retinopatia Diabética são invasivas, como fotocoagulação com laser, injeções intravítrea ou mesmo cirurgia”, afirma a professora. Assim não somente a Retinopatia Diabética, mas outras doenças isquêmicas da retina ou mesmo o glaucoma, que apresentam o estresse oxidativo como um mecanismo importante para seu desenvolvimento podem se beneficiar da nossa tecnologia. Ela frisa que, além de facilitar a administração do fármaco, a tecnologia não apresenta riscos aos pacientes. “O uso do colírio facilitaria a administração do fármaco sem os riscos do procedimento intraocular ou dos danos irreversíveis da foto coagulação a laser na retina”, completa, lembrando que as alternativas terapêuticas disponíveis não apresentam efeitos permanentes, sendo portanto necessárias repetições do procedimento periodicamente.
A docente elenca como pontos positivos da tecnologia o fato de poder ser ministrado nas fases precoces da doença precedendo a sua detecção clínica, atuando essencialmente como neuroprotetor da retina e de poder ser aplicado para o tratamento de outras doenças oculares, como o glaucoma. “Este colírio poderá aplicado na prevenção, ou seja, mesmo antes do comprometimento da visão já que atua nos mecanismos precoces da Retinopatia Diabética e de outras doenças isquêmicas da retina como estresse oxidativo e nitrosativo. Sua via de administração não impõe qualquer risco”, defende.
A composição está disponível para licenciamento e já foi testada em ratos de laboratório experimentalmente diabéticos, obtendo resultados promissores. Neste estudo in vivo, não foram observados efeitos adversos, porém Jacqueline frisa que ainda há necessidade de experimentos envolvendo seres humanos. “Em modelos animais experimentais, o uso do colírio apresentou importantes efeitos neuroprotetores da retina em animais diabéticos avaliada por eletrorretinografia”, conta.
Também participaram do desenvolvimento da tecnologia a professora Maria Helena Andrade Santana, a pesquisadora Mariana Aparecida Brunini Rosales e da aluna de mestrado Aline Borelli Alonso. Os estudos receberam financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e também da Capes.