No Brasil, quase 70% das mortes no trânsito em 2023 têm motociclistas como vítimas
Veículo é considerado o principal instrumento de trabalho para mais de 1,5 milhão de brasileiros
No dia 27 de julho, comemora-se o Dia do Motociclista no Brasil. A data foi instituida em 1998 pela Associação Brasileira de Motociclistas (ABRAM) e tem como objetivo homenagear aqueles que têm como paixão a liberdade que dirigir sobre duas rodas proporciona. Porém, a efeméride também serve como momento de conscientização sobre certos perigos.
Dados do Observatório de Saúde e Segurança do Trabalho (SST) mostram que o índice de mortes por acidentes de trabalho teve um aumento de 7% em 2022. No total, foram registrados 2.538 mortes e 613 mil acidentes no período analisado. Desses, 24.642 correspondem a acidentes com motos. Hoje, no Brasil, cerca de 1,5 milhão de brasileiros utilizam o veículo como o principal instrumento de trabalho.
Essas informações são do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). De acordo com o levantamento, as profissões mais populares são os motoristas de aplicativos, que correspondem a 61,1% dos profissionais, seguido por entregadores de mercadoria em motocicletas (20,9%) e mototaxistas (14,4%). O impulsionamento do setor de delivery foi um dos grandes motores para o crescimento de serviços de entregas. No Empregos.com.br, um dos maiores portais de recrutamento e seleção do país, quase 500 vagas estão abertas para motoboys e motoristas entregadores.
Segundo registros da Agência Municipal de Transporte e Trânsito (Agetran), nos primeiros dois meses do ano foram registradas nove mortes por acidente de trânsito. Destas, seis correspondem a sinistros com motocicleta – uma taxa de 63,6%. Atualmente, as lesões de trânsito estão entre as dez maiores causas de morte em países subdesenvolvidos, de acordo com apontamentos do DALY (Disability Adjusted Life Years – Anos de vida perdidos ajustados por incapacidade).
A utilização de equipamentos como capacetes e luvas são os principais instrumentos para prevenção de acidentes graves. Um monitoramento feito pela CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), da Prefeitura de São Paulo, aponta que dos 13.171 motociclistas observados na capital paulista, apenas três deles não utilizavam capacete, ou seja, 99,98% estavam regulares. O percentual é semelhante para passageiros que ficam na garupa.
Em 1979, quando o levantamento começou a ser feito na cidade de São Paulo, apenas 11% dos motociclistas pilotavam com o item de proteção na cabeça. Dados da Abramet (Associação Brasileira de Medicina de Tráfego) apontam que o uso de capacete diminui os riscos de lesões graves na cabeça, no cérebro e no rosto em 72%, além de reduzir a probabilidade de morte em até 40%.
Para Alex Araujo, CEO da 4Life Prime Saúde Ocupacional, uma das maiores empresas no segmento de saúde e segurança do trabalho, a informalidade na contratação de motoboys e entregadores é o principal fator para a quantidade de acidentes registrados nos últimos anos.
“Estamos falando de um profissional que, na maioria dos casos, utiliza dos aplicativos de entregas para complementar a renda da família. Hoje, com a instabilidade econômica e as altas taxas de juros, a competitividade aumentou no setor. E com muita mão de obra disponível, as companhias utilizam da informalidade para reduzir custos, não repassando treinamentos, equipamentos e normas indispensáveis para o trânsito”, explica.
De acordo com informações do Sistema Único de Saúde, entre os anos de 2011 e 2021, o número de internações relacionadas a acidentes envolvendo motociclistas contou com um aumento de 55%: antes era 3,9 mil a cada 10 mil cidadãos, e agora esse número subiu para 6,1 mil a cada 10 mil. Isso corresponde a 115,7 mil internações e custos que atingiram os R$ 167 milhões, segundo o Ministério da Saúde. Apenas em 2020, 90 mil internações devido a lesões de trânsito foram registradas.
Segundo dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), o número de brasileiros que possuem plano de saúde chegou à marca de 50.6 milhões de beneficiários em maio deste ano. Com isso, motociclistas, quando feridos, possuem melhor acesso a tratamentos de mais qualidade e amparo em caso de acidentes.